Já faz pouco mais de um mês que o povo brasileiro viveu um momento
histórico para a civilização do país: um surto de manifestações, que se alastrou
em poucas semanas por diversos estados brasileiros e causou um verdadeiro alarde
no Brasil e no mundo, chocando principalmente autoridades políticas, principais
alvos dos protestos, em razão de suas inúmeras promessas de melhorias e
benefícios para a população e muito aquém das expectativas e reais necessidades
– sem falar na infinidade de verbas desviadas as quais, se fossem destinadas ao
seu verdadeiro objetivo, já teriam alavancado a nação brasileira para muito
além de onde ela está hoje.
As reivindicações
começaram em São Paulo por meio do Movimento Passe Livre, que contestava o
aumento do preço da passagem de ônibus, metrô e CPTM na região de 3 para 3,20
reais. Rapidamente manifestantes se reuniram
em diversos locais do Brasil para pedir a redução da passagem dos meios de
transportes em suas respectivas cidades e mostrar a insatisfação com os volumosos
gastos para a construção de estádios para a Copa do Mundo, diante da
precariedade estrutural dos sistemas de saúde, educação, segurança pública, transportes, todos
carentes de investimentos.
Um clima de tensão pairou sobre o Brasil, obrigando os governantes a
convocarem reuniões de emergência que pudessem discutir soluções imediatas para
conter o descontentamento populacional e, diante de tamanha repercussão dos
protestos em todo o mundo, várias cidades, incluindo São Paulo, decretaram a
redução das passagens de ônibus, o que serviu de inspiração para que diversas
outras reivindicações ganhassem força.
Diante de todo este cenário, outro fator determinante para a evolução
nacional, já que sem ele não há como manter uma nação em constante crescimento,
é a Economia. Por isso, diante de tantas indignações nacionais, é imprescindível
analisar seu retrospecto. para saber como ela vem se comportando no Brasil.
É sabido que a economia brasileira vem patinando há algum tempo,
diferentemente do período de 2003 a 2010, quando ela cresceu num ritmo tão
acelerado (4,1%) – não visto desde a época do milagre econômico – que mesmo a
crise de 2008, que assolou a economia norte-americana e trouxe consequências
para nações do mundo todo, não foi páreo para as reservas econômicas
brasileiras. Estas, aliadas ao bom cenário produtivo do país, voltado para suas
riquezas internas, permitiu que o Brasil saísse quase ileso da recessão,
momento que poderia ser aproveitado para alavancar-nos ao centro da economia
mundial.
Todavia, infelizmente, a falta de algumas medidas que deveriam ter sido
adotadas há tempos, como as reformas política e tributária, aliadas à
conjuntura econômica mundial, culminaram numa desaceleração econômica
brasileira irrefreável que perdura até os dias de hoje e pode trazer
consequências muito daninhas ao Brasil. Afinal, não basta apenas ter reservas –
principalmente porque estas não duram eternamente – é preciso investir nas
engrenagens brasileiras para que a máquina da produtividade continue rodando e gerando
novos lucros, num grande ciclo econômico que não pode parar.
Recentemente a presidente Dilma resolveu cortar gastos e, ao invés de
reduzir os inúmeros benefícios concedidos aos parlamentares que constituem milhões
em gastos, diminuiu a produtividade brasileira num período de alta demanda
ocasionada principalmente pela concessão de crédito e facilidade de empréstimos,
favorecendo o aumento do poder aquisitivo populacional. Mas esse
desproporcional cenário não poderia durar muito tempo.
Resultado: a facilidade de empréstimos permitiu certo descontrole,
aumentando a inadimplência e muitos cidadãos, recheados de dívidas, reduziram suas
compras, ocasionando ainda mais a elevação da inflação, que nos últimos 12
meses acumulou alta de 6,7%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA).
Com a inflação cada vez mais alta e diante de um quadro marcado por
corrupção nas três esferas de governo, envolvendo desvio de verbas,
falsificação de contratos, superfaturamento, compra de cargos, entre inúmeros
outros quesitos, e os principais setores nacionais totalmente carentes de
investimentos, com numerosos analfabetos, educação transformada em balcão de
negócios, hospitais em situação precária, transportes deteriorados e segurança
ínfima, a população se revoltou e saiu às ruas para manifestar pelos seus
direitos e melhorias no país.
O estopim da revolta se deu principalmente com a realização da Copa das
Confederações, diante da grandiosidade dos estádios construídos aqui com
estrutura de primeiro mundo, o que demonstrou que o Brasil possui sim recursos
para investir em prol da nação.
Mas, se o país investiu bilhões para este evento esportivo e ainda
investirá muito mais para sediar a Copa do Mundo de 2014, o que explica a
estagnação econômica e a precariedade de diversos setores nacionais? Basta
ouvir a indignação da população pelas ruas para encontrar a resposta. A palavra
corrupção está entre os principais temas a ser combatidos, segundo se vê e se
ouve nos cartazes e no clamor populacional. Afinal, o gigante acordou para
cortar o mal pela raiz: a putrefação política brasileira.
É certo que existe uma grande carência de investimentos em prol dos
cidadãos, mas é imprescindível ter a sã consciência de que o financiamento só
deve ocorrer quando destinado ao caminho correto, ou seja, não adianta fornecer
os recursos financeiros se eles acabarão nas mãos de corruptos. Tomemos como
exemplo o caso do setor de transportes, no qual os empresários de ônibus
financiam campanhas em troca de acordos políticos, que fazem vista grossa para
suspeito repasse de verbas aos empresários as quais, em tese, deveriam ser
utilizadas para proporcionar transporte de qualidade.
Portanto, para combater os males que impedem o desenvolvimento nacional
é preciso curar a ferida combatendo a corrupção, e não mascará-la oferecendo
subsídios sem controlar sua efetiva e correta aplicação.
Que o despertar do gigante sirva de lição para que os parlamentares se
conscientizem de uma vez por todas que, por trás de tantas ilegalidades,
existem seres humanos a espera de melhor saúde, educação, enfim, de se sentirem
como verdadeiros cidadãos, cuja resposta definitiva poderá ser refletida nas
urnas, e que as ações governistas como redução das passagens e arquivamento de
PECs não sejam pura jogada de marketing, pois o gigante não sossegará enquanto
não vivenciar justiça de verdade.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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