domingo, 30 de dezembro de 2012

Queda do desemprego no Brasil: um bom fator que poderia ser ainda melhor para o país



Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – detectou que a taxa de desemprego no Brasil caiu para 4,9% em novembro deste ano, em relação a 5,3% em outubro. Desde 2002 este é o menor valor já registrado, com exceção de dezembro de 2011, onde se apontou uma taxa de 4,7%.

Em ano de intensa crise econômica, principalmente nos países europeus, o Brasil conseguiu se equilibrar na corda bamba da recessão econômica de 2008, fato cujo reflexo vem promovendo agravantes entraves financeiros até os dias de hoje. Não obstante, a nação brasileira não saiu ilesa dos tentáculos ocasionados pela crise, que começou com o estouro da bolha imobiliária norte-americana, já que o Brasil sofreu uma acentuada redução econômica em relação aos anos anteriores e o valor de seu Produto Interno Bruto - PIB – se manteve praticamente estagnado.

Todavia, se considerarmos as grandes dificuldades enfrentadas pelo continente europeu e pelos EUA, por exemplo, com o elevado número de dívidas financeiras e as consequentes exigências de cortar gastos, numa tentativa de salvar suas respectivas economias por meio de racionamento de empregos e benefícios para funcionários, veremos que o Brasil não se encontra em uma situação ruim.

Ao analisarmos o quesito desemprego, por exemplo, vemos que o país se saiu bem no cenário mundial diante do alto índice de desempregados concentrado principalmente em nações como Espanha, Grécia e Itália, que passaram por um ano conturbado, repleto de manifestações pelas ruas diante da insatisfação popular com a péssima situação do mercado de trabalho europeu, além de cortes de benefícios e diminuição de aposentadorias.

Mas ao focarmos o desenvolvimento brasileiro e sua estagnação econômica – que não foi tão grave como lá fora, permitindo que o Brasil continuasse seguindo o seu caminho sem a necessidade de racionamentos financeiros bruscos – e toda a recessão, que de certa forma também nos afetou e criou entraves para a comercialização no exterior, somos levados a questionar os fatores que contribuíram para que a empregabilidade brasileira estivesse em um patamar tão bom diante do panorama mundial.

Podemos levantar algumas possíveis hipóteses para esse questionamento: com a chegada do fim de ano, cresce o número de vagas temporárias dentro da área comercial, o que acarreta em maiores contratações.

Outro motivo é que talvez o custo da mão de obra, mesmo com os aumentos salariais, sofra uma redução em razão das novas desonerações da folha de pagamento – o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou um pacote de medidas em que o setor da construção civil, por exemplo, pagará uma contribuição de 2% sobre o seu faturamento, em troca dos 20% do pagamento da contribuição das empresas para o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS. O objetivo de tal medida é a geração de novos empregos na área.

Há ainda de se considerar que parte desta queda no desemprego se refere à relação custo-benefício das empresas em relação às demissões, já que muitas acabam saindo no prejuízo ao demitirem seus funcionários, pois terão de arcar com outras despesas como férias e a multa do FGTS e ainda lidar com as dificuldades de contratar novos empregados treinados. Sendo assim, muitas optam por manter seus empregados, mesmo que estes proporcionem menor produtividade, já que no frigir dos ovos obtêm resultados mais vantajosos.

Mas aqui abro um parêntese para ressaltar que o gasto no setor industrial se mantém extremamente elevado, mesmo que muitas empresas cheguem à conclusão que demissões, nas proporções devidas, trariam mais prejuízos financeiros. Uma pesquisa divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP – ressaltou que, além dos excessivos gastos tributários, as indústrias desembolsam cerca de 7,5 bilhões de reais por ano em benefícios para funcionários, que incluem serviços de saúde, previdência e assistência (como, por exemplo, auxílio creche e berçário).

Em um país onde a tributação tem um dos valores mais altos do mundo e o brasileiro trabalha quase cinco meses por ano apenas para pagar impostos, é no mínimo surpreendente que as indústrias ainda tenham de desembolsar tantos bilhões para bancar tais opções aos serviços públicos, sendo que parte desta verba poderia ser bancada com os recursos provenientes da carga tributária.

Enfim, entre estes e outros fatores responsáveis pela diminuição do desemprego, não podemos deixar de elogiar a valorização do comércio interno que faz parte das medidas adotada pela presidente Dilma que, diante do enfraquecimento econômico de potências estrangeiras, sugeriu que o Brasil voltasse seus olhos para o próprio umbigo, de forma que a população brasileira ampliasse o consumo de produtos internos, alavancando a economia brasileira.

Porém, o governo tem cometido algumas falhas ao incentivar o consumo e, temendo gastos que possam comprometer o caixa brasileiro, reduzindo investimentos e produtividade, o que, aliado a fatores ambientais e climáticos, implica na falta de produtos suficientes para atender toda a demanda.

Além disso, a presidente tem estimulado incansavelmente a queda dos juros e também da inflação, mesmo que o cenário mundial exija o oposto desta redução, diante da alta das taxas financeiras em outros países, para seguir a tendência mundial.

E mesmo assim, com a elevada quantia de impostos na conta do governo, mais recursos já poderiam se destinar a benefícios para funcionários e, principalmente, a maiores investimentos – que gerariam ainda mais empregos – tão necessários para o Brasil neste momento em diversas áreas como educação, comércio, saúde, segurança, transporte, energia elétrica – o corte nas contas de luz deve ocorrer sim, mas principalmente através dos impostos estaduais. Em estados como São Paulo cobram impostos acima de 33%, tal índice apresenta-se por si só no Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) – e não da redução produtiva, como a presidente Dilma promoveu.

Portanto, a queda do índice de desempregados é um ótimo resultado para o Brasil, mas poderia estar ainda melhor se o governo conduzisse sua gestão de forma mais adequada. 

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Por que a troca de poder na China gera suspense em todo o planeta



“Menina dos olhos” no cenário mundial: é assim que muitos países enxergam a China, potência econômica que em 2010 se tornou a segunda maior economia do mundo, atraindo os olhares de investidores oriundos de todos os continentes, preocupados e interessados em fazer alianças que alavanquem suas nações economicamente, tendo a China como uma geradora de riquezas.

Nos últimos dias a tal “menina dos olhos” foi motivo de atenção redobrada por parte das outras nações. A razão para tal fenômeno se deve ao fato das mudanças de poder chinês talvez serem as mais profundas da década. A partir de março de 2013 o novo presidente da China, Xi Jinping, tomará posse ao lado do primeiro-ministro Keqiang, de modo que eles poderão permanecer até 10 anos no cargo.

A troca de poder chinês preocupa várias partes do mundo por uma série de fatores. Um dos principais é que muitas nações, como os EUA e os países europeus, continuam sentindo fortemente os abalos da crise econômica mundial ocorrida em 2008, com o estouro da bolha imobiliária norte-americana. Porém, tais nações viram na China um aliado que pudesse ajudá-los na melhora econômica e por isso a troca de poderes acaba por criar tantas expectativas, já que as nações temem ser desfavorecidas pelos acordos comerciais chineses, caso haja profundas mudanças no regime de Xi Jinping.

Enquanto a existência de conflitos entre a população e o governo se torna rotineira, principalmente em países europeus, onde os cidadãos estão cada vez mais descontentes com as atitudes governamentais – que reduz salários e corta benefícios dentro dos planos de austeridade adotados pelas autoridades no intuito de combater a crise – a China parece seguir uma linha totalmente oposta ao desespero que se abate sobre diversas regiões afetadas pela recessão econômica.

Com tantos anos de história, a nação chinesa vem se destacando intensamente nos últimos anos pela forma como tem implantado sua gestão. O crescimento da mão de obra barata, semiescrava, aliada à estratégia, contestada, de uma política econômica centrada na maxidesvalorização de sua moeda, alavancou cada vez mais a produção nacional, colocando a China na mira das exportações. Almejada por muitas potências mundiais, o país se fortaleceu intensamente nos aspectos econômico e social exportando seus produtos para os quatro cantos do planeta, com custos sem par onde quer que seja.

A China só não contava era com o grande estouro da bolha imobiliária, ocorrido em 2008, que acabaria por impactar, principalmente, nações tão importantes para o desenvolvimento mundial. Mesmo assim, enquanto muitos líderes norte-americanos e europeus quebravam e continuam “quebrando a cabeça” para pensar numa forma que os livrem dos tentáculos da recessão, a China ainda pôde respirar mais aliviada desfrutando de sua riqueza, gerada principalmente pelas intensas exportações de outrora.

No entanto, a situação não tende a ser branda por período indeterminado, afinal os países que estabeleceram negócios com a China não estão em uma zona nada confortável, o que acabou abalando também a estrutura chinesa, que sofreu uma grande queda das exportações para estas regiões. O cenário mundial vem sofrendo alterações principalmente em relação à Europa, onde os países europeus contam com a ajuda chinesa para, em meio à crise do euro, poderem exportar seus produtos e garantir uma espécie de auxílio financeiro internacional.

Além disso, a grande demanda atual por profissionais reduziu a mão de obra chinesa disponível, o que obrigou muitas empresas a oferecerem salários mais altos para atrair os trabalhadores. Sendo assim o novo presidente Xi Jinping terá de lidar com alterações em sua nação que, futuramente, tragam um maior abalo para o país mais populoso do mundo. Fala-se em uma reforma política que possa voltar os olhos da China para o mercado interno. Resta saber se o novo líder estará disposto a promover tal mudança ou manterá a mesma e tradicional linha do regime chinês.

Portanto, não é de se estranhar que o mundo fique apreensivo com a entrada de Xi Jinping, pois, ao menor sinal de uma pequena modificação em sua gestão, muitas nações já prenderão o ar, temendo sofrerem um desgaste ainda maior em suas economias. O Brasil também observa atento tudo o que acontece, já que a China é a maior compradora de produtos brasileiros há três anos e, neste ano, se tornará pela primeira vez a principal fornecedora para o país, desbancando os EUA. 

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O fim da autossuficiência petrolífera brasileira



Um dos maiores patrimônios do Brasil, considerado orgulho de toda a nação face a sua intensa produtividade e geração de riquezas para todo o país, colocando-o como um dos protagonistas no cenário mundial do mercado petrolífero: trata-se da empresa Petróleo Brasileiro S.A. –  Petrobrás – criada em 1953 e sancionada pelo então presidente Getúlio Dornelles Vargas.

Em 2003 a empresa completou 50 anos e, coincidentemente, fazendo jus a meio século de história e sucesso, alcançou naquele mesmo ano o dobro em produção diária de óleo e gás natural, ultrapassando a marca de 2 bilhões de barris, no Brasil e no exterior. Em 2006 a companhia petrolífera não parava de crescer em produtividade e anunciava mais uma excelente notícia aos cidadãos brasileiros: o então presidente Lula deu início à produção petrolífera em águas profundas por meio da Plataforma P-50, na Bacia de Campos, no mesmo período em que a nação chegava a atingir uma autossuficiência em petróleo por determinado período.

Mas aquele cenário tão habitual e que se tornou parte da identidade brasileira infelizmente parece estar prestes a mudar suas diretrizes: o potencial econômico, proveniente das explorações de petróleo que alavancaram o país mundialmente em termos financeiros durante tantos anos, está sofrendo uma acentuada reversão. Sim, foram mais de 53 anos contando com a crescente descoberta petrolífera geradora de riquezas e agora a obtenção deste recurso natural brasileiro dependerá fortemente também de outros países.

Um dos principais fatores que contribuíram para esta mudança repentina na gestão Petrobrás ocorreu em razão de medidas tomadas pela presidente Dilma, que ela acredita serem melhores para conter os tentáculos da crise econômica mundial – que agora começa a atingir o Brasil com maior impacto. Desde o primeiro semestre deste ano a presidente vem ordenando uma contínua diminuição da taxa básica de juros – Selic –objetivando incentivar as instituições bancárias públicas e privadas a fazerem o mesmo de forma a proporcionar facilidades de empréstimo aos cidadãos brasileiros.

Reduzida a um valor de 7,5%, a taxa Selic – que chegou a patamares de incríveis 26,5% no governo FHC - teve a maior redução da história brasileira. Vale destacar que, se esta taxa for mantida a níveis muito altos, reprime a economia, por desestimular a captação de recursos e direcionar os investimentos para o mercado especulativo (aplicações financeiras), por outro lado eleva em demasia a dívida pública brasileira, como aconteceu na última década do século passado. 

Entretanto é extremamente importante a existência de um equilíbrio na taxa de juros já que a redução acentuada também trouxe consequências como a diminuição orçamentária nos fundos brasileiros, que acabaria tendo de ser recompensada com o aumento da inflação, que também já esta comprometida por ter ultrapassado a meta de 4,5%. Com tal cenário, Dilma sabia que não poderia elevar ainda mais as taxas inflacionárias e resolveu manter duas grandezas inversamente proporcionais (juros e inflação) na mesma diretriz.

Sendo assim a presidente estimulou o maior consumo de produtos brasileiros – e também de combustível – por meio da oferta de crédito que contribuiu, inclusive, para manter acelerada a produção de automóveis e, por consequência, suas vendas. No entanto, ao fomentar o aumento do consumo, tentando “conter a crise” – e temendo uma repressão da população principalmente em ano de eleição, o governo federal não aumentou os preços dos produtos e, com os juros baixos, faltou subsídios para alavancar a produção brasileira, cuja quantidade passou a ser insuficiente em razão da alta demanda.

Tal situação também ocorreu com o preço do combustível brasileiro que, mesmo com o aumento do custo internacional do petróleo, manteve-se no mesmo valor. Resultado: faltou subsídio para fomentar a produção petrolífera, modernizar os poços, interrompendo assim a prospecção de novas jazidas e atrasando a extração de óleo da camada pré-sal.

Um estudo divulgado pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) aponta que já em 2013 o Brasil estará consumindo mais óleo do que será capaz de produzir, ou seja, um dos maiores produtores petrolíferos do mundo correrá o risco de se tornar dependente do petróleo estrangeiro e ainda importando a preços muito mais altos em razão do aumento internacional.

Portanto, reverter essa situação de caráter agravante é possível sim. Diante das medidas já citadas – juros e inflação – responsáveis por controlar a economia brasileira é perceptível que a taxa inflacionária não pode ser elevada ainda mais em razão do patamar que já se encontra.

Entretanto reduzir os juros a proporções tão históricas não somente acarretará na redução de subsídios para a produtividade brasileira como ampliará a possibilidade dos cidadãos contraírem mais empréstimos, ocasionando mais inadimplências, gerando, portanto, uma falsa imagem de recuperação econômica brasileira, comprometendo inclusive a imagem do país naquilo que ele sempre se destacou: a riqueza petrolífera.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

sábado, 22 de setembro de 2012

Corte no preço da energia: benefício para todos?




No ano em que o Brasil sentiu com maior intensidade o impacto ocasionado pela crise econômica mundial, que espalhou seus tentáculos principalmente nas nações europeias – e somente agora começa a dar um pouco de fôlego para a economia destes países – a presidente Dilma, a fim de fomentar o crescimento do PIB brasileiro, praticamente estagnado nos últimos meses, adotou uma série de medidas que pudesse manter o funcionamento das engrenagens brasileiras.

Uma das medidas mais defendidas por Dilma e colocadas em pauta foi a questão do incentivo à redução dos juros pelas instituições bancárias, também exaustivamente abordada neste blog em postagens anteriores.  No mês passado a presidente anunciou um novo plano – que chegava até mesmo a contrastar com a ideologia petista – cujo objetivo é a privatização de portos, aeroportos e ferrovias de modo a acelerar o desenvolvimento econômico brasileiro. Mas as decisões anunciadas pela presidente para alavancar a economia não pararam por aí: havia-se discorrido sobre a redução dos preços de energia e na terça-feira do dia 11 de setembro o governo oficializou tal medida.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, a partir do dia 5 de fevereiro de 2013, a tarifa de energia sofrerá uma queda de 20,2 % em média para os consumidores, sendo a redução da ordem de até 28% para o setor industrial e 16,2% para o setor residencial, tendo como objetivos a geração de maior competitividade para a indústria local e a reversão do quadro de um crescimento econômico ínfimo neste último trimestre.

Essa diminuição se refletirá nas contas de luz dos consumidores, que pagarão menos tributos, e também no orçamento das empresas de energia que diminuirão seus investimentos em razão da redução dos lucros, já que a medida será aplicada da seguinte forma: serão eliminados os gastos com a Reserva Global de Reversão (RGR) e a Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis (CCC). Sendo assim, o CCC – encargo pago por todos os consumidores brasileiros para financiar o uso de combustíveis para geração de energia termelétrica nos sistemas isolados, especialmente na Região Norte – e o RGR – é uma conta que visa indenizar consumidores por eventuais reversões de concessão de serviços – deixarão de existir.

Tal corte implica numa queda na arrecadação tributária, o que em tese também ruma em direção a outra demanda, que é a administração mais eficiente desses recursos, inclusive no que concerne aos investimentos na expansão do sistema (pelo menos é este o propósito defendido pela presidente). Outra parte da queda na taxa de energia se dará em razão da diminuição, em 75%, da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) que existe para oferecer subsídios aos consumidores de baixo poder aquisitivo e fomentar fontes alternativas de energia.

Vale destacar que, para compensar a redução no CDE, o governo fará um aporte de R$ 3,3 bilhões do Tesouro Nacional, faltando ainda R$ 1,3 bilhões a serem captados no mercado financeiro (bancos) para as demais iniciativas, como a compra de combustível para geração a diesel na Região Norte. Essas despesas tendem a diminuir com o tempo, como afirma o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, uma vez que programas sociais financiados pelo governo com os encargos setoriais estão por atingir sua meta.

Em razão de nem todo o recurso financeiro oriundo dos pagamentos de tributos sobre a energia chegar ao seu destino devido ao desvio de verbas e, principalmente, pelo fato do brasileiro pagar uma das contas de luz mais caras do mundo, título que representa uma vergonhosa herança da era das privatizações, a redução adotada pelo governo foi celebrada por muitos, que viram em tal providência uma chance de reduzir os gastos.

Mas é preciso ter cautela quando analisamos tal questão já que, a princípio, toda proposta que envolva a redução de pagamentos para os cidadãos surta um primeiro impacto de melhoria e grande aprovação entre os membros da sociedade, em alguns casos de uma enganosa euforia.

Abro um parênteses aqui com a finalidade de refletir toda a profundidade que esta medida pode ocasionar. Não estou apontando críticas quanto à decisão tomada pela presidente, mas sim analisando os fatos sobre o parâmetro das empresas de energia que necessitam de investimentos. Se haverá redução dos gastos, haverá queda nos ganhos das companhias energéticas que terão sua capacidade financeira mais restrita para atender a mesma demanda de energia. Além disso, todas as empresas de energia ligadas ao governo, incluindo aquelas que possuem contratos válidos até 2015 e 2017, serão obrigadas a reformulá-los já no ano que vem, para se encaixarem dentro da nova proposta.

Por isso é preciso que a presidente não somente se preocupe em cortar gastos como os faça do modo mais adequado e sobre os encargos que menos trarão prejuízos às empresas, já que ela extinguiu dois setores importantes para a manutenção energética brasileira (RGR e CCC) além de reduzir os lucros do CDE.

É sabido que o desvio de verbas se alastra pelos diversos setores nacionais e não deixa de ser diferente quanto ao energético, mas não podemos generalizar a questão e cortar investimentos que seriam essenciais para a produção de energia no Brasil. Portanto, acredito que a implantação de propostas que visem a uma redução tarifária sempre será bem vinda desde que bem aplicada ou, caso contrário, o corte se refletirá não apenas no bolso, mas, neste caso, também na energia, causando um apagão.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

sábado, 15 de setembro de 2012

Pré-sal: grande passo para o crescimento do Brasil, mas quem ganha com isso?



Como fator de incremento da economia brasileira, a descoberta do petróleo durante a exploração da camada pré-sal gerou intensa movimentação de riquezas principalmente para as cidades e municípios de onde foi extraído, e que supostamente seriam privilegiadas com os royalties da exploração. Entretanto, algumas ocorrências têm demonstrado que o dinheiro proveniente da exploração petrolífera seguiu caminhos – a princípio – desconhecidos, e grande parte dele não chegou aos setores de investimentos como instrumento de fomento ao desenvolvimento e aprimoramento destas cidades e municípios.

Um estudo realizado pelo economista da Universidade de São Paulo (USP), Fernando Postali, publicado na edição de 22 de agosto da revista VEJA, fez uma comparação da evolução econômica entre as cidades que estão dentro e fora do raio do petróleo entre os anos de 1995 a 2006 e chegou a uma conclusão paradoxal: as cidades que se beneficiaram dos royalties oriundos do petróleo cresceram economicamente em taxas muito inferiores àquelas que não foram beneficiadas pelos trabalhos petrolíferos.

Imprescindível para auxiliar no investimento financeiro brasileiro – principalmente no momento em que o país sente com maior impacto os efeitos da crise econômica mundial e o PIB registrou um pequeno aumento de 0,4% em relação ao primeiro trimestre, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – a descoberta de petróleo na camada pré-sal foi comemorada pelo país na perspectiva de alavancar sua economia e, principalmente, propiciar grandes melhoras nos setores de infraestrutura, educação, saúde e segurança das regiões onde ele fora encontrado. Mas os royalties parecem ter tomado um destino bem diferente do que aquele mais propício ao desenvolvimento da nação.

Descobriu-se que grande parte destes recursos foram desviados para os bolsos dos próprios membros pertencentes aos setores governamentais destas regiões detentoras de petróleo. Prefeitos, secretários e vereadores pintaram e continuam pintando e bordando em cima dos recursos financeiros que, além de pertencerem ao povo, representam a esperança de formação de tantos jovens – que poderiam estar ingressando em escolas de bom nível educacional, afinal esta é umas das bases para formar cidadãos capacitados a aprimorar a produtividade brasileira, tão essencial principalmente nos dias de hoje  - capacitação esta que contribuiria para alavancar o crescimento do PIB neste cenário de crise, atualmente estagnado em baixos índices.

Consequentemente, nossa nação carece de investimentos nos setores primordiais para o crescimento do país; não obstante detenha bons recursos para fazê-lo, necessita de uma gestão mais transparente  que possa aplicar o dinheiro devidamente, com medidas que saneiem a corrupção que nos assola em todos os níveis de governo, com a conivência de grande parte de nossa sociedade. Portanto, a existência de meios reguladores que controlem e fiscalizem o uso dos recursos se faz tão necessária, assim como a regulamentação, por exemplo, dos setores onde os royalties poderão ser aplicados, já que hoje em dia a aplicação financeira oriunda do petróleo é proibida apenas para uso pessoal e pagamento de dívidas, o que facilita o uso de meios ilícitos para benefício próprio dos governantes por meio do desvio destes recursos.

Os recursos financeiros necessários para o Brasil se destacar ainda mais no cenário econômico mundial já existem, agora é preciso que apenas os bons gestores os empreguem adequadamente para que a sociedade brasileira como um todo ao menos saiba o que é poder utilizar de serviços de saúde, educação, segurança, entre outros direitos constitucionais básicos e fundamentais.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

sábado, 25 de agosto de 2012

Dilma e as privatizações: o caminho certo para a evolução brasileira




Na quarta-feira do dia 15 de agosto a presidente Dilma Rousseff anunciou uma série de medidas as quais, confrontadas com a gestão pública do PT (que defende a estatização de empresas), chega até mesmo a compor um paradoxo político e ideológico: trata-se da privatização de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias que integram o plano de ações batizado de Programa de Investimento em Logística.

Entre as medidas anunciadas pela presidente está a concessão de 7500 quilômetros de rodovias e 10000 quilômetros de ferrovias à iniciativa privada, além da discussão que acontecerá nas próximas semanas sobre a redução das tarifas de energia, desoneração da folha de pagamento das empresas e privatização dos portos e aeroportos.

Se considerarmos apenas as ações implantadas pela presidente Dilma em sua gestão desde a entrada no poder, veremos que tais medidas não são tão surpreendentes assim. A ex-ministra da Casa Civil entrou no Palácio do Planalto e lá se instalou mostrando foco e determinação na tomada de atitudes que pudessem melhorar a imagem do país. E assim ocorreu: diante da sucessão de escândalos que se abateram sobre a Esplanada dos Ministérios em 2011 ela não relutou em demitir seis de seus ministros em apenas 10 meses de governo.

No período que sucedeu o escândalo que culminou com a demissão do então ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, enquanto petistas permaneciam em constante discussão sobre quem seria o seu sucessor, Dilma passou à frente e colocou Gleisi Helena Hoffman para assumir o cargo, medida que gerou o descontentamento de muitos membros de seu próprio partido. Contudo, ela não se deixou abalar pelas críticas petistas. Para citar outro exemplo da demonstração de seu poder desprovido de influências alheias, ela demitiu o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, ao descobrir, entre outros motivos, que ele havia participado de reuniões às escondidas com nada mais nada menos do que José Dirceu, principal réu do atual julgamento do Mensalão. No lugar de Gabrielli a presidente colocou Maria da Graça Foster no cargo.

Agora Dilma parece ter utilizado da mesma determinação que outrora tivera na adoção de medidas que alavanquem o crescimento brasileiro e contribuam para um país mais desprovido de corrupção, sem se preocupar com a crítica de aliados. Não é de hoje que o PIB nacional tem crescido a valores quase nulos, contribuindo para uma estagnação econômica. Depois de incentivar a oferta de crédito e, consequentemente, maior compra de produtos brasileiros como forma de acelerar o valor do PIB, a presidente se volta para a concretização de medidas que começaram a ser discutidas desde março, quando ela se reuniu por três horas com os maiores empresários do Brasil para falar a respeito: a privatização – ou concessão de serviços.

Diante da atual situação financeira, Dilma finalmente toma o caminho certo ao escolher privatizar determinados setores do transporte nacional. Para que um país possa se desenvolver de modo cada vez mais gradativo e livre de estagnações ou quedas econômicas a parceria público-privada reveste-se de um caráter essencial. Assim como é impossível que um país seja controlado em toda sua estrutura por corporações estatais, a impossibilidade também é válida no caso das companhias privadas. 

Entretanto, o governo precisa conscientizar- se da necessidade de conceder determinados setores do país a empresas privadas para que assim eles possam manter sua funcionalidade ideal, enquanto que o Estado precisa se preocupar em atender as necessidades essenciais da população, já que ele não conseguirá administrar eficientemente todas as áreas do país – o que muitas vezes acaba resultando em desvio e lavagem de dinheiro, ilegalidades que têm marcado há décadas constante presença nas ações cometidas por alguns membros do governo.

Como já disse anteriormente, a presidente Dilma tem tomado medidas para incentivar o consumo, contribuindo assim com o crescimento econômico, e diante da crescente demanda é necessário propiciar oferta adequada, a qual só é garantida com o aumento da produtividade, com condições adequadas para atingir a população como um todo.

É onde entra o setor da logística, no qual a área privada apresenta-se como aquela melhor dotada para prover das eminentes condições a esta cadeia. A privatização das ferrovias, por exemplo, cuja falta ou mesmo os precários atributos atualmente atravancam a adequada circulação dos produtos brasileiros, é extremamente relevante, pois este meio de transporte carece não só de melhorias urgentes, como da expansão de sua malha a nível nacional, seja para o escoamento da produção, seja no transporte de passageiros.

Portanto, torçamos para que a presidente continue seguindo a linha mais correta de decisões para alavancar o país e não se deixe influenciar por aliados que, visando apenas o benefício próprio, usarão de vários argumentos para se oporem a tais medidas de privatização.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas
  

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Paradoxo imobiliário chinês



Imagine o seguinte quadro: o país mais populoso do mundo, onde há um controle da natalidade visando desacelerar o crescimento populacional, contando com regiões residenciais e comerciais praticamente inabitadas, como é o caso da cidade de Ordos apresentada na foto acima. Esse paradoxo de caráter tão surreal é mais verdadeiro do que se imagina e existe na China por uma explicação mais real ainda.

No ano de 2008, quando o estouro da bolha imobiliária norte-americana desencadeou uma crise econômica que espalhou seus tentáculos por nações de todo o mundo, o governo chinês estimulou a oferta de crédito em seu país a fim de impedir a queda do consumo interno. Como resultado, grande parte da população viu no mercado imobiliário uma chance de obter bons investimentos, considerando-se o fraco rendimento das aplicações em banco e do grande risco financeiro apresentado pelo investimento em ações.

Em decorrência disso, de lá para cá houve um aumento acentuado das vendas de residências e escritórios, não apenas em razão do crédito barato, como também do baixo valor dos impostos imobiliários. O mercado de imóveis tem estado tão movimentado que se tornou comum os chineses possuírem mais de uma propriedade, além de suas próprias moradias. Mas o que explica a existência de regiões fantasmas em uma nação com aproximadamente 1,3 bilhão de habitantes é o fato de que os detentores de dois imóveis, sendo a maioria pertencente à classe média ascendente, serem investidores que não estão dispostos a vender a propriedade por um preço menor do que compraram, ou alugá-la.

Portanto estes fatores nos levam a crer que os novos investidores imobiliários aguardam uma significativa valorização de suas propriedades, a fim de poderem lucrar nas vendas. E não são apenas estes que demonstram uma insaciável sede por entrada de capital. Em virtude da grande demanda de aquisição de imóveis, os setores ligados à construção têm trabalhado de forma desenfreada, não somente no que tange ao consumo de materiais e equipamentos como na rápida evolução dos métodos e tecnologias construtivas, indo ao encontro da produtividade que exige tal demanda, de modo que o número de construções já ultrapassa a capacidade de compra da população chinesa.

Essa acelerada movimentação do mercado imobiliário, tanto por parte dos compradores quanto das imobiliárias e construtoras, chega a oferecer riscos para e economia chinesa, uma vez que, se a moeda do país sofre uma grande queda, consequentemente os imóveis se desvalorizarão, acarretando uma grande perda tanto para os setores de construção e de imóveis, que não param de oferecer e construir empreendimentos, quanto para todos aqueles que compraram propriedades a fim de investir.  

Recentemente o governo tem tentado restringir o número de casas compradas por um mesmo cidadão chinês. Em um país onde a compra e oferta parecem não ter freios, trata-se de uma boa medida para equilibrar o mercado, caso contrário o paradoxo imobiliário chinês se estenderá cada vez mais.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Telefonia móvel: recorde de usuários, declínio dos serviços



Mais veloz do que o aumento populacional brasileiro, existe outro tipo de crescimento que ultrapassa consideravelmente o número de pessoas existente no Brasil: a telefonia móvel, que hoje apresenta 256 milhões de linhas ativas para 191 milhões de brasileiros.

Isso se deve à quantidade de aparelhos móveis por pessoa presentes no país, já que muitos consumidores optam por ter mais de um celular ou chip. São tantos números telefônicos que, pelo menos em parte do estado mais rico do Brasil, onde essa proporção é mais gritante, as regras terão de mudar para abrir espaço às novas linhas que surgirão. A partir do dia 29 de julho foi acrescentado um nono dígito em todos os celulares da Grande São Paulo e imediações, cujo DDD é 11.

Mas, ao contrário do crescimento de consumidores que ocasionou uma gradativa e elevada geração de lucros, para as operadoras de celular, os serviços oferecidos por estas seguiram na direção contrária, deteriorando-se na proporção do aumento de vendas.

 As companhias de telefonia móvel não somente ganharam mais clientes, como também mais reclamações destes,  motivados pela má qualidade na prestação de serviços, principalmente no que tange à queda do sinal das ligações, às dificuldades para completar chamadas e às zonas de sombra, onde o sinal efetivamente não funciona. Sem citar o péssimo atendimento ao consumidor e o fraco pós-venda.

Pensou-se apenas na elevação quantitativa do número de clientes e na consequente obtenção de lucro, mas não no aprimoramento de uma estrutura eficiente que comporte e atenda tantas linhas de modo preciso e com uma boa qualidade de serviços. A operadora TIM aumentou o número de seus usuários em 88% desde o ano de 2008. O motivo para tamanha expansão deve-se às inúmeras promoções criadas para atrair mais e mais clientes. Cito, como  exemplo, aquela na qual os donos de celulares da TIM pagarão apenas o primeiro minuto, ao efetuarem uma ligação para outro aparelho de mesma operadora, não importando de que outro lugar do país a pessoa com quem se fala esteja.

Diante disso, a Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel – resolveu punir as companhias de telefonia móvel OI, TIM e Claro de modo que elas ficassem proibidas de vender chips de celular nos estados em que receberam maiores reclamações. No 2º lugar do ranking de maior telefonia móvel, ficando atrás apenas da Vivo, a TIM foi a que mais se saiu prejudicada ao ser impossibilitada de vender seus serviços em dezoito estados. Em São Paulo, apenas a Claro foi proibida de vender chips.

A Anatel também determinou que todas as operadoras de celular – incluindo as que não foram punidas – deverão apresentar, em um prazo de 30 dias, um plano que contenha soluções para resolver os principais problemas de que os usuários reclamam como falta e comprometimento de sinal.

A medida tomada pela Anatel deve servir de estímulo para que as operadoras de celular invistam em infraestrutura, proporcionando maior qualidade e efetividade dos serviços, e não apenas com estratégias de obtenção de mais clientes, focando apenas nos lucros, mas conscientizando-se que mais usuários bem atendidos repercutirão automaticamente em melhores serviços, gerando uma expansão responsável, ética, sustentável, além da consolidação da imagem e reputação empresarial. Não é a toa que a telefonia celular é o serviço que mais causa insatisfação nos brasileiros, liderando o ranking de reclamações dos órgãos de defesa do consumidor.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

domingo, 22 de julho de 2012

E o PIB permanece no mesmo lugar!



Desde o fim do ano passado, o valor do  PIB – Produto Interno Bruto - brasileiro permaneceu praticamente inalterado e seu crescimento não ultrapassou a taxa de 2,5%. Buscando mudar esse cenário o governo do Brasil vem adotando diversas medidas as quais acredita serem eficazes para alavancá-lo.

Redução dos juros das instituições bancárias públicas, aumento da concessão de créditos, incentivo a determinadas indústrias e estímulo ao crescimento do mercado automobilístico fazem parte do conjunto de medidas que visam a melhora econômica brasileira. A Selic – taxa básica de juros – foi reduzida a proporções históricas (ao nível de 8%) visando incentivar a concessão de empréstimos a juros baixos por parte dos bancos, disponibilizando mais recursos para que, com o incremento do consumo, os consumidores brasileiros possam movimentar a produção e os serviços.

O tempo foi passando, tais medidas foram sendo implantadas, mas o valor do PIB não se locomoveu. Permanecendo sob o mesmo patamar em que se encontrava quando o governo ainda discorria sobre o que fazer para acelerar a economia, o valor do PIB continua a níveis bem mais reduzidos se comparado principalmente ao ano de 2010, quando seu valor atingiu um crescimento de 9% no primeiro trimestre. A maior aceleração desde 1995.

Naquela época o mundo todo pôde sentir as consequências do estouro da bolha imobiliária do mercado financeiro norte-americano em função da grande crise econômica, que atualmente espalha seus tentáculos sobre a Europa, provocando um agravante desequilíbrio financeiro em grande parte dos países que adotaram o euro. Mas no período de estouro da crise, o Brasil quase não sentiu impacto em razão da boa situação econômica em que se encontrava, aliada às reservas financeiras, que permitiram que as engrenagens da produtividade brasileira não parassem de rodar.

Entretanto, o efeito “marolinha” da crise, como descrito pelo ex-presidente Lula, agora parece querer ganhar forças para se tornar ao menos um pequeno tornado, já que a situação econômica brasileira não se encontra tão favorável como outrora e o valor do crescimento financeiro permanece inalterado.

Diante deste cenário somos obrigados a questionar o motivo para que o PIB não consiga mais decolar. A resposta se encontra numa pequena palavra denominada infraestrutura. Com a queda das exportações brasileiras motivada pela crise externa, o país precisa voltar os olhos para o lucro interno, o qual não pode ser oriundo apenas do incentivo ao consumo, mas, primeiramente, da produtividade.

A qualificação da mão de obra e o estímulo à competitividade entre as empresas são pilares fundamentais para aprimorar a infraestrutura brasileira, considerada o alicerce para a sustentação de uma economia. No entanto, o governo parece andar em sentido contrário ao fomentar ainda mais o intervencionismo estatal, algo que neste momento não é a melhor solução, considerando-se que tudo que o setor privado menos precisa atualmente é de entraves que dificultem o seu desenvolvimento. E, para agravar a situação e exemplificar o que foi dito, basta analisarmos a atitude do governo brasileiro que, ao invés de acelerar, contribuiu para o atraso da engrenagem da produtividade, ao elevar a tributação dos investimentos e empréstimos internacionais, intervir na cotação do dólar, impor barreiras aos produtos importados entre outros...

É preciso analisar que muitos destes produtos importados se encontram a preços abaixo dos nacionais, o que contribuiria para que determinadas empresas reduzissem gastos na compra de equipamentos de forma a terem um maior aparato para produzir a custos mais baixos, o que seria bom para alavancar a produtividade, já que um maior número de indústrias estaria disponível para comprar o material necessário à produção. Entretanto, o governo precisa se conscientizar disso e reduzir a tributação de determinados produtos de origem estrangeira.

Na Argentina, por exemplo, muitas empresas privadas já estão se desacostumando com o termo “importação”. Diante da crise europeia que se abate sobre as nações de todo o mundo, a presidente argentina Cristina Kirchner resolveu adotar medidas extremamente protecionistas e proibir as empresas de realizar importações de diversos produtos – sendo muitos deles essenciais para a manutenção da produtividade do país.

Qualquer argentino que queira comprar dólar passará por pesadas restrições que visam justamente o controle excessivo sobre a entrada de capital e materiais estrangeiros no país. Como consequência desse intervencionismo estatal abusivo, as corporações argentinas se encontram praticamente estagnadas, muitas fecharam ou estão a ponto de fechar suas portas.

O intervencionismo estatal presente na Argentina é um belo exemplo de medidas que não devem ser tomadas para lidar com a crise europeia. Se as economias dos países desenvolvidos estão se desvalorizando e se comprometendo com a crise, a adoção de medidas protecionistas de caráter extremo por parte dos países em desenvolvimento, para que não sintam o impacto financeiro negativo, não é a melhor solução. Sem as importações, as empresas não poderão deter de aparato suficiente para manter a produtividade.

Portanto, os governos brasileiro e argentino, principalmente, deveriam parar para refletir que este é o melhor momento para a compra de produtos estrangeiros essenciais para alimentarem a engrenagem da economia e do PIB, contanto que estes países reduzam suas tarifas de importação ao invés de aumentá-las dificultando a participação no comércio exterior. 

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

terça-feira, 3 de julho de 2012

Investimentos: o verdadeiro passo para a ascensão econômica do Brasil



Recentemente o Brasil tem passado por uma redução do crescimento de seu PIB econômico e também pela diminuição de suas exportações em função da crise europeia, que dificultou e diminuiu as relações comerciais entre Brasil e Europa.  A fim de reverter a situação e retomar a ascensão econômica brasileira, a presidente Dilma Rousseff elaborou uma lista de exigências que inclui a redução dos juros bancários – principalmente – e a concessão de maiores créditos que possam incentivar o consumidor a adquirir produtos brasileiros, já que o país foi obrigado a voltar-se para o mercado interno, em busca de margem de lucro, pois, com a recessão europeia reduziu-se a intensidade do comércio exterior em países de todo o mundo.

Visando proporcionar uma maior obtenção de lucros para o Brasil sem elevar as taxas inflacionárias, a presidente objetiva manter um difícil equilíbrio entre juros e inflação de modo que os dois alcancem patamares reduzidos.

Entretanto, a redução dos juros nem sempre surte os efeitos desejados, tendo em vista o risco considerável da inadimplência que acarretaria numa redução econômica ainda maior para o Brasil – com a redução dos juros e a maior oferta de crédito cria-se um maior estímulo para o aumento de empréstimos e, consequentemente, de endividamentos com bancos e instituições financeiras como já vem ocorrendo com parte das famílias brasileiras que aumentou suas dívidas. Tal fato não descartaria uma possível quebra financeira em instituições bancárias e agências de empréstimo.

Transcorrido algum tempo após a adoção destas medidas, muitos fatores demonstram que elas ainda não causaram impacto ao comércio e, por consequência, ao mercado financeiro, alcançando a melhoria financeira esperada. Incentivou-se o consumo, mas a produtividade permaneceu praticamente inalterada, não obstante a demanda por parte desses consumidores tenha continuado no mesmo ritmo de crescimento.

O Banco Central já reduziu a previsão de crescimento do PIB deste ano de 3,5% para 2,5%, ou seja, a economia brasileira realmente está sofrendo uma acentuada desaceleração que se reflete no principal pilar – imprescindível para a infraestrutura do país – o do investimento, o qual deveria ter recebido mais incentivos. No entanto, o governo optou por ampliar a possibilidade de consumo sem uma demanda tão eficiente para isso, ou seja, pensou-se em incentivar a compra, mas não se pensou em estratégias que aumentem a produtividade que atenda as necessidades da população em bens.

“É importante estimular investimentos, pois eles são a mola do crescimento”, essa foi a declaração feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que somente agora parece ter percebido, juntamente com o governo, que a produtividade é o principal ponto de estímulo ao crescimento econômico, com o lançamento do PAC Equipamentos. Trata-se de um plano para aumentar o investimento industrial em que o governo investirá na aquisição de caminhões e máquinas para a construção civil, bem como de veículos militares, mesmo se os preços destes forem até 25% mais altos que os similares importados.

O programa inclui a redução da taxa de juros do BNDES de 6% para 5,5% ao ano. Apesar de tais medidas representarem menos de 1% da produção anual da indústria brasileira e 0,18% do PIB, em função do valor gasto com a aquisição dos produtos (8,4 bilhões), elas já representam um passo a ser dado para que aos poucos esses investimentos possam crescer mais, alavancando o verdadeiro e correto modo de se incentivar a ascensão econômica brasileira de forma linear e desprovida de oscilações.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

domingo, 17 de junho de 2012

Rio+20: Como criar a ponte que liga Economia à Sustentabilidade?

Nestes últimos dias o assunto “sustentabilidade” vem sendo destaque no mundo todo, principalmente aqui no Brasil. A razão é a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontece no Rio de Janeiro desde o último dia 13 de junho. Chamada de Rio+20, o encontro leva este nome por se realizar 20 anos após a Eco 92: primeiro encontro a reunir congressistas do mundo inteiro no Brasil para discutirem a concretização e ampliação de uma economia sustentável. 

A primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente aconteceu no ano de 1972, em Estocolmo.  Com a Eco 92 e a Rio+20 o objetivo de discutir e concretizar a implantação de medidas que possam conciliar desenvolvimento e crescimento econômico com ações sustentáveis, a fim de impedir o esgotamento das riquezas naturais,  ganhou extrema força, já que 1972 foi praticamente o período de nascimento do ambientalismo.

De lá para cá muito se discutiu a respeito, mas pouco se fez para ampliar o investimento monetário em recursos pró-ambiente em razão das inúmeras opiniões divergentes, oriundas dos líderes de diferentes países que muitas vezes funcionam como um entrave para se chegar a um acordo.

Outra questão de peso que contribui para a dificuldade de se estabelecer uma medida favorável e aprovada por todos é o grande paradoxo entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, já que os primeiros são os pioneiros e principais responsáveis pelo uso em excesso das fontes naturais e, por outro lado, são os que mais relutam em investir grande parte de suas riquezas em ações sustentáveis. Enquanto isso muitas nações subdesenvolvidas e emergentes vêm fazendo sua parte na preservação ambiental como é o caso do Brasil, que tem investido maciçamente nesta área.

Se tomarmos como exemplo a primeira potência econômica mundial, que são os EUA, para ilustrar o fato acima descrito, é possível ver claramente como a ambição por lucros capitalistas ainda reina em primeiro lugar na lista de preocupações de muitas nações desenvolvidas. Totalmente voltados para suas raízes capitalistas que valorizam primeiramente a geração de riquezas e a competitividade entre empresas, de forma a colocar a obtenção de lucros acima de tudo, os EUA, ao contrário da forma ágil com que sempre lidaram e lidam com a implantação de medidas para agilizarem o crescimento econômico, procuram “tirar o pé do acelerador” quando o assunto envolve a criação de fundos monetários para o investimento de medidas em prol da natureza.

É possível conciliar crescimento econômico com desenvolvimento sustentável sim, mas assim como a crise econômica – que para ser totalmente combatida necessita de medidas de longo prazo como foi o caso da Alemanha, que outrora passou por uma grande reforma econômica e hoje é umas das menos afetadas pela crise europeia – a sustentabilidade exige medidas, que a princípio acarretarão na desaceleração econômica por certo período, mas futuramente resultará em um regime produtivo e sustentável.  

Com receio de investir uma determinada quantia de suas riquezas em medidas ambientalistas, muitas potências abrem mão de desacelerarem suas economias para ampliarem os gastos com técnicas sustentáveis, que não acarretarão em lucros em curto prazo.

Por isso, elas demonstram extrema cautela antes de aprovarem qualquer medida que envolva disponibilizar dinheiro em prol do meio ambiente, principalmente em um período que grande parte das nações desenvolvidas tem suas riquezas comprometidas pela crise econômica. Esta que, nem na gravidade da situação em que se encontra, foi motivo suficiente para que os países europeus tomassem medidas econômicas de longo prazo, que dirá realizar tal feito para investir em sustentabilidade.

Entre as discussões ocorridas até o momento na Conferência da Rio+20, se destacou a proposta do G77 – grupo constituídos pelos países pobres e emergentes – lançado oficialmente pelo embaixador-chefe do Brasil nas negociações, Luiz Alberto Figueiredo: trata-se da criação de um fundo de 30 bilhões de dólares por ano, a partir de 2013, pelas potências desenvolvidas por serem estas as principais responsáveis pela poluição do planeta.

No entanto, em razão da crise europeia, este não é o melhor momento para que os desenvolvidos comecem a investir neste fundo. E tal proposta acabou sendo realmente rejeitada pelos países ricos. Para substituí-la, foi estabelecido o compromisso de se criar um fórum para discutir o assunto a partir das nomeações da Assembleia Geral das Nações Unidas.

O fato é que a colaboração de tais potências desenvolvidas é imprescindível para que as técnicas sustentáveis possam sair do papel, já que são elas as principais detentoras do financiamento mundial. E felizmente, no mundo de hoje, a população está mais consciente destes fatos e clama por atitudes mais limpas e não prejudiciais ao meio ambiente. Por isso é relevante que as atitudes sustentáveis se propaguem cada vez mais para conhecimento de todos.

O incentivo a tais atitudes sustentáveis também é essencial para melhor a situação do planeta as quais acredito que podem estar presentes em medidas como a meritocracia , na qual os governos podem  conceder benefícios extras as empresas empenhadas em poluir menos e não esgotar os recursos naturais, como forma de incentivá-las a continuar adotando tais medidas.

O bônus demográfico que tem se ampliado no Brasil – onde a maior parcela de habitantes está entre 20 e 29 anos, o que indica que futuramente o país terá mais idosos do que crianças se mantida a porcentagem atual – é uma porta para que a nação invista mais em educação em termos qualitativos, para formar pessoas mais capacitadas a elaborarem ideias sustentáveis.   

Enfim, a questão é que discutir a chamada “economia verde” com pessoas vindas de 193 nações, com culturas, histórias, economias, religiões e, principalmente, interesses distintos, é um desafio de caráter extremamente audacioso.

Muito se ouve falar de que a realização desta Conferência, como outras que já aconteceram para discutir a respeito do ambientalismo, acabará não surtindo resultados proveitosos, mas o fato é que lidar com opiniões tão divergentes, em que cada um dialoga com base nas características políticas, econômicas e sociais de seus país, nos leva a refletir que o simples fato de todos os membros da Rio+20 chegarem a um mesmo acordo, já representa um grande avanço para a humanidade. Pois, por se tratar de um problema de repercussão mundial, sua solução não será encontrada de um dia para o outro, mas pode ser agilizada com a cooperação de todos. 

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Como salvar os pilares da economia europeia




Passam-se os dias e os noticiários não deixam de divulgar aquilo que já está virando rotina para leitores, internautas, ouvintes e espectadores: a crise do euro, que continuar a espalhar seus tentáculos depravadores pelas economias dos países europeus.

Pioneira, na Europa, em sentir o efeito drástico da desaceleração econômica provocada pela crise de 2008, a Grécia continua a enfrentar sérias dificuldades para lidar com a quitação da grandiosa dívida acumulada pelo país em razão do excesso de gastos.  Além da Grécia, outros países europeus como Portugal, Espanha e Irlanda surtiram e continuam a surtir os efeitos da recessão econômica, que ameaça assombrar diversas potências europeias se medidas mais drásticas não forem tomadas, a fim de estabelecer a contenção da crise.

Diante de tais circunstâncias, somos levados a questionar até que ponto a “blindagem” ocasionada pela adoção de uma moeda única como o euro pode ser rompida, comprometendo os respectivos países que a adaptam ao seu regime financeiro.

Atualmente o euro circula em 17 países da Europa. Apesar de agilizar a transação econômica europeia sem contar, obviamente, os benefícios gerados, por exemplo, pela oferta de crédito, que acaba por estimular o consumo e a produtividade nos diversos países europeus ao mesmo tempo, este sistema de moeda única não é sinônimo de uma economia 100% segura, como estamos percebendo face à fragilização financeira atual.

Muito se discerniu a respeito da tranquilidade financeira que esta medida poderia trazer em razão da homogeneização do sistema econômico europeu, no entanto, há que se levar em consideração a forma como cada país lida com a administração dos recursos econômicos provenientes do euro.

Entre as nações europeias que foram assoladas pela crise, a Alemanha foi a nação que sofreu o menor impacto. Se compararmos as situações econômicas da Alemanha e da Grécia, veremos que as duas nações constituem polos extremos de agravamento financeiro ocasionado pela crise, sendo que a primeira continua com seu desenvolvimento intacto e a segunda foi totalmente tomada por uma desaceleração econômica, acarretando altas taxas de desemprego e quebra de empresas.

Diante de tal fato, podemos chegar à conclusão de que não basta adotar um padrão que possa facilitar a vida de todos os membros que o adaptem para si, se cada um deles não adotar medidas que possam permitir a manutenção deste padrão de forma saudável. Retomando o caso dos dois países já citados, podemos dizer que a Grécia passa por uma situação tão conturbada financeiramente, em razão do excesso de gastos cometidos pelo governo, desde outrora contribuindo para o aumento de suas dívidas.

Por outro lado, a Alemanha adotou comportamento extremamente oposto ao grego, através de medidas conservadoras e de longo prazo que visam a um maior controle monetário como forma de proteção às suas reservas econômicas.  Como resultado, a economia alemã se mantém estabilizada e livre da “corda bamba”, ao contrário das demais economias europeias.

Há de se levar em conta que o fato dos alemães estarem em uma zona de conforto em plena recessão europeia também decorra de medidas aplicadas há muitos anos. Desde a reunificação alemã – uma vez que no período que a antecedeu a economia estava extremamente deteriorada por consequência da divisão da nação em Alemanha Ocidental e Oriental – o país passou por profundas reformas que atingiram maciçamente toda a sua população.

Essas mudanças – que envolveram medidas como diminuição dos salários em troca de menor tempo de trabalho, negociações salariais sendo realizadas diretamente entre funcionários e patrões sem a intervenção de sindicatos – agregadas às medidas austeras, apesar de terem ocasionado grandes dificuldades no começo, repercutiram em resultados que, a longo prazo, contribuíram para o crescimento econômico.

Portanto, o resultado desta estabilidade está na realização de reformas com efeitos a longo prazo, ao contrário do que ocorre na Grécia e em outros países que vêm adotando medidas provisórias a fim de combater a recessão, como a entrada, na Grécia, de maior dinheiro do FMI e da União Europeia – UE, que, a princípio ajudam no investimento, mas contribuem para o aumento da dívida grega, criando um círculo vicioso.

O resultado destas ações de curto prazo se refletiu na indignação da população grega, que se encontra descontente com a gestão do governo e altamente prejudicada em razão do crescimento incontrolável do desemprego. Diante da gravidade da situação foi realizada uma votação entre os partidos, no dia 6 de maio, para que os parlamentares votassem a favor ou contra a saída da Grécia da zona do euro. Em razão da pequena diferença de votos, gerando um empate, o que complica ainda mais a situação, uma nova votação foi marcada para o dia 17 de junho.

Abordando o caso de modo mais abrangente, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália também correm altos riscos de se prejudicarem financeiramente ainda mais, caminhando na direção do desgaste sofrido pela Grécia. Fala-se em medidas austeras e, principalmente, na intromissão de novos pacotes econômicos auxiliadores, mas o fato é que só austeridade não resolve, pois o alicerce do regime monetário europeu está comprometido e se medidas ao alcance do problema não forem tomadas, o impacto será mundial.

Portanto, como ocorreu na Alemanha, os demais países necessitam de uma reforma econômica urgente e os cidadãos europeus reivindicam isso, como foi o caso dos franceses que elegeram um socialista para a presidência, na espera de mudanças. O pilar da economia está desgastado e se fortes medidas não forem tomadas, “o prédio desabará sobre o planeta com consequências catastróficas para todos”.

Por Mariana Mascarenhas