Uma pesquisa divulgada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – detectou que a
taxa de desemprego no Brasil caiu para 4,9% em novembro deste ano, em relação a
5,3% em outubro. Desde 2002 este é o menor valor já registrado, com exceção de dezembro de 2011, onde se apontou
uma taxa de 4,7%.
Em ano de intensa crise econômica, principalmente nos países europeus, o
Brasil conseguiu se equilibrar na corda bamba da recessão econômica de 2008,
fato cujo reflexo vem promovendo agravantes entraves financeiros até os dias de
hoje. Não obstante, a nação brasileira não saiu ilesa dos tentáculos
ocasionados pela crise, que começou com o estouro da bolha imobiliária
norte-americana, já que o Brasil sofreu uma acentuada redução econômica em
relação aos anos anteriores e o valor de seu Produto Interno Bruto - PIB – se
manteve praticamente estagnado.
Todavia, se
considerarmos as grandes dificuldades enfrentadas pelo continente europeu e pelos
EUA, por exemplo, com o elevado número de dívidas financeiras e as consequentes
exigências de cortar gastos, numa tentativa de salvar suas respectivas
economias por meio de racionamento de empregos e benefícios para funcionários, veremos
que o Brasil não se encontra em uma situação ruim.
Ao analisarmos o quesito desemprego, por exemplo, vemos que o país se
saiu bem no cenário mundial diante do alto índice de desempregados concentrado
principalmente em nações como Espanha, Grécia e Itália, que passaram por um ano
conturbado, repleto de manifestações pelas ruas diante da insatisfação popular
com a péssima situação do mercado de trabalho europeu, além de cortes de
benefícios e diminuição de aposentadorias.
Mas ao focarmos o desenvolvimento brasileiro e sua estagnação econômica –
que não foi tão grave como lá fora, permitindo que o Brasil continuasse seguindo
o seu caminho sem a necessidade de racionamentos financeiros bruscos – e toda a
recessão, que de certa forma também nos afetou e criou entraves para a
comercialização no exterior, somos levados a questionar os fatores que
contribuíram para que a empregabilidade brasileira estivesse em um patamar tão
bom diante do panorama mundial.
Podemos levantar
algumas possíveis hipóteses para esse questionamento: com a chegada do fim de
ano, cresce o número de vagas temporárias dentro da área comercial, o que
acarreta em maiores contratações.
Outro motivo é que talvez o custo da mão de obra, mesmo com os aumentos
salariais, sofra uma redução em razão das novas desonerações da folha de
pagamento – o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou um pacote de medidas
em que o setor da construção civil, por exemplo, pagará uma contribuição de 2% sobre o seu faturamento, em troca dos 20% do pagamento da contribuição das empresas para o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS. O objetivo de tal medida é a geração de novos empregos na área.
Há ainda de se considerar que parte desta queda no
desemprego se refere à relação custo-benefício das empresas em relação às
demissões, já que muitas acabam saindo no prejuízo ao demitirem seus
funcionários, pois terão de
arcar com outras despesas como férias e a multa do FGTS e ainda lidar
com as dificuldades de contratar novos empregados treinados. Sendo assim,
muitas optam por manter seus empregados, mesmo que estes proporcionem menor
produtividade, já que no frigir dos ovos obtêm resultados mais vantajosos.
Mas aqui abro um parêntese para ressaltar que o gasto no setor
industrial se mantém extremamente elevado, mesmo que muitas empresas cheguem à
conclusão que demissões, nas proporções devidas, trariam mais prejuízos
financeiros. Uma pesquisa divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo – FIESP – ressaltou que, além dos excessivos gastos tributários, as
indústrias desembolsam cerca de 7,5 bilhões de reais por ano em benefícios para
funcionários, que incluem serviços de saúde, previdência e assistência (como,
por exemplo, auxílio creche e berçário).
Em um país onde a
tributação tem um dos valores mais altos do mundo e o brasileiro trabalha quase cinco meses por ano
apenas para pagar impostos, é no mínimo surpreendente que as indústrias ainda
tenham de desembolsar tantos bilhões para bancar tais opções aos serviços
públicos, sendo que parte desta verba poderia ser bancada com os recursos provenientes
da carga tributária.
Enfim, entre estes e outros fatores responsáveis pela diminuição do
desemprego, não podemos deixar de elogiar a valorização do comércio interno que
faz parte das medidas adotada pela presidente Dilma que, diante do
enfraquecimento econômico de potências estrangeiras, sugeriu que o Brasil
voltasse seus olhos para o próprio umbigo, de forma que a população brasileira ampliasse
o consumo de produtos internos, alavancando a economia brasileira.
Porém, o governo tem cometido algumas falhas ao incentivar o consumo e,
temendo gastos que possam comprometer o caixa brasileiro, reduzindo
investimentos e produtividade, o que, aliado a fatores ambientais e climáticos,
implica na falta de produtos suficientes para atender toda a demanda.
Além disso, a
presidente tem estimulado incansavelmente a queda dos juros e também da inflação,
mesmo que o cenário mundial exija o oposto desta redução, diante da alta das
taxas financeiras em outros países, para seguir a tendência
mundial.
E mesmo
assim, com a elevada quantia de impostos na conta do governo, mais recursos já
poderiam se destinar a benefícios para funcionários e, principalmente, a
maiores investimentos – que gerariam ainda mais empregos – tão necessários para
o Brasil neste momento em diversas áreas como educação, comércio, saúde,
segurança, transporte, energia elétrica – o corte nas contas de luz deve
ocorrer sim, mas principalmente através dos impostos estaduais. Em estados como
São Paulo cobram impostos acima de 33%, tal índice apresenta-se por si só no
Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) – e não da redução produtiva, como a
presidente Dilma promoveu.
Portanto, a queda do índice de desempregados é um ótimo resultado para o
Brasil, mas poderia estar ainda melhor se o governo conduzisse sua gestão de
forma mais adequada.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas