Passam-se os dias e os noticiários
não deixam de divulgar aquilo que já está virando rotina para leitores,
internautas, ouvintes e espectadores: a crise do euro, que continuar a espalhar
seus tentáculos depravadores pelas economias dos países europeus.
Pioneira, na Europa, em sentir o
efeito drástico da desaceleração econômica provocada pela crise de 2008, a
Grécia continua a enfrentar sérias dificuldades para lidar com a quitação da
grandiosa dívida acumulada pelo país em razão do excesso de gastos. Além da Grécia, outros países europeus como
Portugal, Espanha e Irlanda surtiram e continuam a surtir os efeitos da
recessão econômica, que ameaça assombrar diversas potências europeias se
medidas mais drásticas não forem tomadas, a fim de estabelecer a contenção da
crise.
Diante de tais circunstâncias,
somos levados a questionar até que ponto a “blindagem” ocasionada pela adoção
de uma moeda única como o euro pode ser rompida, comprometendo os respectivos
países que a adaptam ao seu regime financeiro.
Atualmente o euro circula em 17
países da Europa. Apesar de agilizar a transação econômica europeia sem contar,
obviamente, os benefícios gerados, por exemplo, pela oferta de crédito, que
acaba por estimular o consumo e a produtividade nos diversos países europeus ao
mesmo tempo, este sistema de moeda única não é sinônimo de uma economia 100%
segura, como estamos percebendo face à fragilização financeira atual.
Muito se discerniu a respeito da
tranquilidade financeira que esta medida poderia trazer em razão da
homogeneização do sistema econômico europeu, no entanto, há que se levar em
consideração a forma como cada país lida com a administração dos recursos
econômicos provenientes do euro.
Entre as nações europeias que foram
assoladas pela crise, a Alemanha foi a nação que sofreu o menor impacto. Se
compararmos as situações econômicas da Alemanha e da Grécia, veremos que as
duas nações constituem polos extremos de agravamento financeiro ocasionado pela
crise, sendo que a primeira continua com seu desenvolvimento intacto e a
segunda foi totalmente tomada por uma desaceleração econômica, acarretando altas
taxas de desemprego e quebra de empresas.
Diante de tal fato, podemos chegar
à conclusão de que não basta adotar um padrão que possa facilitar a vida de
todos os membros que o adaptem para si, se cada um deles não adotar medidas que
possam permitir a manutenção deste padrão de forma saudável. Retomando o caso
dos dois países já citados, podemos dizer que a Grécia passa por uma situação
tão conturbada financeiramente, em razão do excesso de gastos cometidos pelo
governo, desde outrora contribuindo para o aumento de suas dívidas.
Por outro lado, a Alemanha adotou
comportamento extremamente oposto ao grego, através de medidas conservadoras e
de longo prazo que visam a um maior controle monetário como forma de proteção
às suas reservas econômicas. Como
resultado, a economia alemã se mantém estabilizada e livre da “corda bamba”, ao
contrário das demais economias europeias.
Há de se levar em conta que o fato
dos alemães estarem em uma zona de conforto em plena recessão europeia também decorra
de medidas aplicadas há muitos anos. Desde a reunificação alemã – uma vez que no
período que a antecedeu a economia estava extremamente deteriorada por
consequência da divisão da nação em Alemanha Ocidental e Oriental – o país
passou por profundas reformas que atingiram maciçamente toda a sua população.
Essas mudanças – que envolveram
medidas como diminuição dos salários em troca de menor tempo de trabalho,
negociações salariais sendo realizadas diretamente entre funcionários e patrões
sem a intervenção de sindicatos – agregadas às medidas austeras, apesar de
terem ocasionado grandes dificuldades no começo, repercutiram em resultados que,
a longo prazo, contribuíram para o crescimento econômico.
Portanto, o resultado desta
estabilidade está na realização de reformas com efeitos a longo prazo, ao
contrário do que ocorre na Grécia e em outros países que vêm adotando medidas
provisórias a fim de combater a recessão, como a entrada, na Grécia, de maior
dinheiro do FMI e da União Europeia – UE, que, a princípio ajudam no
investimento, mas contribuem para o aumento da dívida grega, criando um círculo
vicioso.
O resultado destas ações de curto
prazo se refletiu na indignação da população grega, que se encontra descontente
com a gestão do governo e altamente prejudicada em razão do crescimento
incontrolável do desemprego. Diante da gravidade da situação foi realizada uma
votação entre os partidos, no dia 6 de maio, para que os parlamentares votassem
a favor ou contra a saída da Grécia da zona do euro. Em razão da pequena
diferença de votos, gerando um empate, o que complica ainda mais a situação, uma
nova votação foi marcada para o dia 17 de junho.
Abordando o caso de modo mais
abrangente, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália também correm altos riscos de
se prejudicarem financeiramente ainda mais, caminhando na direção do desgaste
sofrido pela Grécia. Fala-se em medidas austeras e, principalmente, na
intromissão de novos pacotes econômicos auxiliadores, mas o fato é que só
austeridade não resolve, pois o alicerce do regime monetário europeu está
comprometido e se medidas ao alcance do problema não forem tomadas, o impacto
será mundial.
Portanto, como ocorreu na Alemanha,
os demais países necessitam de uma reforma econômica urgente e os cidadãos
europeus reivindicam isso, como foi o caso dos franceses que elegeram um
socialista para a presidência, na espera de mudanças. O pilar da economia está
desgastado e se fortes medidas não forem tomadas, “o prédio desabará sobre o
planeta com consequências catastróficas para todos”.
Por Mariana
Mascarenhas