quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Por que o Governo Federal não consegue reduzir o crescente aumento do custo industrial brasileiro?



Uma pesquisa divulgada na mídia pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial – Iedi – em fevereiro de 2013, revelou que o custo de trabalho na indústria brasileira registrou um aumento recorde em 2012: trata-se de uma alta de 6,6% - a maior em 11 anos, desde que a pesquisa começou a ser feita - que corresponde ao dobro do aumento registrado em 2011, de 3,2%.

Diante de tais estatísticas, há de se perguntar por que o setor industrial brasileiro se encontra nesta fase, diante do crescimento financeiro da nação. Enquanto a economia de muitos países, principalmente dos desenvolvidos pertencentes ao continente europeu, ainda patina amadoramente, tentando se equilibrar e se livrar de vez dos tentáculos da crise econômica de 2008, o Brasil pode respirar muito mais aliviado neste cenário de tensão mundial contando, para isto, com a ajuda de suas reservas monetárias e ascensão das classes sociais que contribuem para o enriquecimento da nação.

Portanto, se o Brasil tem sido a menina dos olhos nos palcos da economia mundial, é preciso analisar mais a fundo o que tem ocorrido dentro dos setores que sustentam a economia nacional. Apesar do cenário altamente positivo para o desenvolvimento do país, sua linha econômica ascendente, que vem se destacando desde 2008, parece perder cada vez mais fôlego - mantendo-se agora praticamente estagnada.

Como já abordei em postagens anteriores neste blog, agora o governo brasileiro parece sentir com maior intensidade os efeitos da crise, apesar do Brasil se manter em destaque sobre muitas outras nações e, a fim de tomar medidas para alavancar a economia, em 2012 a presidente Dilma incentivou a oferta de crédito e baixou os juros – para ajudar no estímulo ao poder de compra populacional.  Ciente de que reservas financeiras não duram eternamente, ela se conscientizou da necessidade de redução de gastos governamentais para aliviar o caixa monetário, mas, para isso, não seguiu o caminho mais apropriado ao se preocupar em reduzir a produtividade, indispensável para a manutenção das “engrenagens econômicas brasileiras”, e manter o valor do imposto acima da média tolerável.

Ou seja, a população manteve o pagamento do nível de tributação e sofreu com a redução da oferta que não supriu toda a demanda. E com o setor industrial não foi diferente, já que este também sentiu os pilares de sua estrutura serem afetados pela diminuição de investimentos na produção. Segundo o Iedi, esse é um dos fatores que contribuíram para o aumento do custo industrial, pois, diante deste quadro, a redução produtiva também acarreta numa consequente diminuição dos lucros, seja no âmbito nacional ou internacional, já que os produtos importados sairão muito à frente em termos de competitividade.

Outro fator apontado pelo Iedi para o aumento de custos industriais envolve a elevação média de 5,8% nos salários dos funcionários. Mesmo com a produtividade em queda e pressionada pela competitividade, a indústria optou por não demitir alguns empregados - a fim de cortar despesas - e arcar com o aumento salarial.

Isso se deve à falta de mão de obra qualificada no mercado brasileiro atual. Com um setor de serviços muito bem fortalecido e em constante evolução (proporcionando diversos benefícios aos trabalhadores), são inúmeros os cidadãos que se veem muito mais atraídos por este ramo do que o industrial.

Ademais, a ampliação de mecanismos de acesso ao ensino contribui para que muito mais pessoas aprimorem seu currículo e busquem maiores oportunidades. No entanto, o Brasil herdou graves problemas no setor de Educação, principalmente no final da década de 90, não somente pelo desestímulo à formação de professores, sucateamento dos aparelhos de ensino, como por uma mudança na educação em termos muito mais quantitativos do que qualitativos.  

Tal fator ocorreu em razão do aumento do número de faculdades e universidades particulares e da ampliação da oferta de cursos para que mais brasileiros se formassem, sem que houvesse a mínima preocupação com a qualidade destas instituições, do nível do corpo docente e desses cursos, jogando um número cada vez maior de graduados sem a devida qualificação no mercado, ao nível do que este necessita - em contrapartida, o amplo leque de ocupações oferecido pelo mercado de trabalho brasileiro atual leva, de qualquer forma, a uma maior escassez de mão de obra.

Caberia não somente ao governo atual - e os que vierem a sucedê-lo - efetuar uma ampla requalificação do ensino, como os empresários investirem na capacitação e treinamento adequado desta mão de obra, proporcionado incentivos, como nos exemplos proporcionados há décadas atrás pelas Federações e Confederações do Comércio e da Indústria - os sistemas SESI, SENAI, SENAC, etc.. espalhados pelo país.

Em 2012, o Governo tentou atenuar o problema de custos e da competitividade para a indústria ao anunciar medidas como a redução da conta de luz, diminuição dos impostos sobre salário, queda dos juros e interferência cambial. Porém, com uma acentuada limitação na produtividade, acompanhada pela escassez da mão de obra no mercado - que praticamente impossibilita algumas demissões, o que em tese acabaria ocorrendo no momento atual, diante do aumento de salário e orçamento em geral – não há medida, de mesmo âmbito das mencionadas acima e implantadas pelo governo, que facilitará o bolso do setor industrial.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Governo Federal arrecada 1,5 trilhão de reais em impostos: para onde vai o dinheiro?




Um trilhão e meio de reais! Essa “simples” quantia, cuja real mensuração já é difícil imaginar, corresponde ao valor que foi parar nos caixas do governo brasileiro em 2012, graças à contribuição tributária de cada empresário, produtor e trabalhador no Brasil.

Diante de tal valor é de se estranhar que, mesmo que ele tenha se saído muito melhor do que muitos outros países na crise econômica internacional, o Brasil foi afetado por alguns fatores como intensa desaceleração do PIB, redução da produtividade e do investimento em infraestrutura. Ou seja, o famoso trilhão não foi páreo para acelerar todos os pilares de desenvolvimento nacionais.

Analisando a situação de acordo com o senso comum podemos tachá-la de incabível, mas, antes de qualquer julgamento, é necessário fazer um desdobramento dos setores que regem a economia nacional e necessitam de arrecadação tributária. Além dos gastos necessários com a infraestrutura, existe uma séria de áreas que provocam a redução dos cofres nacionais de modo até mesmo exagerado. São gastos com a máquina pública, aposentadoria e seus benefícios, salários de servidores, entre outros...

Aqui abro um parênteses para ressaltar que, antes que surjam errôneas interpretações, não digo que gastos com aposentadorias, por exemplo, possam ser taxados de exagerados, mas que existem outros setores como Educação, Segurança e Saúde que necessitam de investimentos urgentemente.

Mais alarmante do que a quantidade de verbas para cada setor nacional é a administração delas de modo a aplicar adequadamente cada centavo gerado pelo povo brasileiro. Uma boa gestão administrativa é requisito fundamental para o desenvolvimento da nação, mesmo que em alguns momentos ela esteja com verbas abaixo do necessário para os devidos investimentos, pouco dinheiro bem aplicado surtirá muito mais resultados do que grandes quantias financeiras mal administradas, pois apenas parte destas chegarão – se chegarem – aos seus devidos destinos.

Portanto, há de se levar em conta que o Brasil enfrenta uma série de entraves que dificultam a aplicação devida das verbas. Além da falta de uma gestão mais qualificada, os excessos burocráticos na concretização dos projetos, as dívidas públicas, a lentidão no licenciamento ambiental e a tão famosa corrupção brasileira, que já tomou como lar o Congresso Nacional e as demais casas executivas e legislativas brasileiras, são os principais motivos que podem justificar, por exemplo, porque o tal trilhão não foi suficiente para arcar com todos os gastos necessários. Há, portanto, que se adotar em todo o país urgentemente um choque de moralidade.

Em 2012 a presidente Dilma, visando cortar gastos reduziu investimentos e, consequentemente, a produtividade brasileira. No entanto, o Brasil não podia se estagnar economicamente e o Governo Federal incentivou a oferta de crédito e a redução dos juros bancários para que a população continuasse consumindo e proporcionando lucros para o Brasil.

Resultado: com o aumento do consumo e a queda na produtividade houve um déficit que acarretou no aumento dos preços e inflação acima da meta. Além disso, com a redução dos juros e menor controle sobre os empréstimos, o número de inadimplentes cresceu, impactando significativamente o consumo brasileiro.

Mas a presidente continuou focada na redução dos gastos e resolveu reduzir as tarifas de energia para aliviar o bolso da população. Antes que ela dissesse a palavra “redução”, o termo “racionamento” já começou a ser ressuscitado, pois o setor energético também foi afetado pela redução dos investimentos – face à não aplicação dos recursos embutidos nas tarifas para honrar os  compromissos de investimentos no sistema firmados quando das concessões dos serviços, em 1997 – e, aliado à fatores climáticos que provocaram uma redução dos reservatórios das hidrelétricas, redundou na queda na produção, e consequentemente na oferta de energia.

O setor petrolífero foi outro afetado pela queda nos investimentos. A Petrobrás expôs ao governo a necessidade de um aumento no preço dos combustíveis em razão dos grandes atrasos de exploração do petróleo. Não teve alternativa, e na semana passada a presidente Dilma sucumbiu ao pedido da empresa e decretou o aumento no preço dos combustíveis.

Todavia, não há nada melhor do que aliviar o bolso do contribuinte brasileiro, sem que para isso seja necessário reduzir a produção e todos os demais responsáveis pelas engrenagens da economia brasileira. Uma boa gestão administrativa, sem prescindir de um choque de moralidade, contribuiria para que isso ocorresse e os trilhões chegassem ao seu devido lugar.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas