Imagine o seguinte quadro: o país mais populoso do mundo, onde há um controle
da natalidade visando desacelerar o crescimento populacional, contando com
regiões residenciais e comerciais praticamente inabitadas, como é o caso da
cidade de Ordos apresentada na foto acima. Esse paradoxo de caráter tão surreal
é mais verdadeiro do que se imagina e existe na China por uma explicação mais
real ainda.
No ano de 2008, quando o estouro da bolha imobiliária norte-americana desencadeou
uma crise econômica que espalhou seus tentáculos por nações de todo o mundo, o
governo chinês estimulou a oferta de crédito em seu país a fim de impedir a
queda do consumo interno. Como resultado, grande parte da população viu no
mercado imobiliário uma chance de obter bons investimentos, considerando-se o fraco
rendimento das aplicações em banco e do grande risco financeiro apresentado
pelo investimento em ações.
Em decorrência disso, de lá para cá houve um aumento acentuado das
vendas de residências e escritórios, não apenas em razão do crédito barato, como
também do baixo valor dos impostos imobiliários. O mercado de imóveis tem estado
tão movimentado que se tornou comum os chineses possuírem mais de uma
propriedade, além de suas próprias moradias. Mas o que explica a existência de
regiões fantasmas em uma nação com aproximadamente 1,3 bilhão de habitantes é o
fato de que os detentores de dois imóveis, sendo a maioria pertencente à classe
média ascendente, serem investidores que não estão dispostos a vender a
propriedade por um preço menor do que compraram, ou alugá-la.
Portanto estes fatores nos levam a crer que os novos investidores
imobiliários aguardam uma significativa valorização de suas propriedades, a fim
de poderem lucrar nas vendas. E não são apenas estes que demonstram uma
insaciável sede por entrada de capital. Em virtude da grande demanda de
aquisição de imóveis, os setores ligados à construção têm trabalhado de forma
desenfreada, não somente no que tange ao consumo de materiais e equipamentos
como na rápida evolução dos métodos e tecnologias construtivas, indo ao
encontro da produtividade que exige tal demanda, de modo que o número de
construções já ultrapassa a capacidade de compra da população chinesa.
Essa acelerada movimentação do mercado imobiliário, tanto por parte dos
compradores quanto das imobiliárias e construtoras, chega a oferecer riscos
para e economia chinesa, uma vez que, se a moeda do país sofre uma grande
queda, consequentemente os imóveis se desvalorizarão, acarretando uma grande
perda tanto para os setores de construção e de imóveis, que não param de
oferecer e construir empreendimentos, quanto para todos aqueles que compraram
propriedades a fim de investir.
Recentemente o governo
tem tentado restringir o número de casas compradas por um mesmo cidadão chinês.
Em um país onde a compra e oferta parecem não ter freios, trata-se de uma boa
medida para equilibrar o mercado, caso contrário o paradoxo imobiliário chinês
se estenderá cada vez mais.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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